Na falta de goleadores, meias dominam artilharia do Brasileirão
08-09-2010 12:56
Goleadas? Artilheiros matadores? Futebol ofensivo? Nada disso prevaleceu no primeiro turno do Brasileirão de 2010. Com a pior média de gols desde o início da era dos pontos corridos (2,46 por partida), esta edição do campeonato ainda é marcada por outro aspecto curioso: os jogadores que mais vezes balançaram as redes adversárias não são atacantes, são meio-campistas.
Bruno César, do Corinthians, e Elias, do Atlético-GO, são os principais goleadores do Brasileirão, com nove gols. Ambos atuam como meias, armadores, e tiram de cena nomes que são esperados no topo da artilharia, como Kleber, Neymar, Diego Tardelli, Washington, Borges, Alecsandro, Fred, Ronaldo...
ANO |
MÉDIA DE GOLS |
2003 | 2,89 |
2004 | 2,78 |
2005 | 3,13 |
2006 | 2,71 |
2007 | 2,76 |
2008 | 2,72 |
2009 | 2,88 |
2010 | 2,46 |
Fato que, historicamente, se torna ainda mais curioso: o último meia a encerrar o campeonato nacional como artilheiro foi ninguém menos que Zico, em 1982, pelo Flamengo (com 20 gols). Desde então os matadores foram todos atacantes, que apenas cumpriam a sua missão (Rodrigo Fabri, artilheiro de 2002 pelo Grêmio, é meia-atacante, mas atuou como avançado no time Tricolor na maior parte do campeonato). A semelhança do Galinho com os dois jovens? Apenas a liberdade de poderem jogar mais soltos, livres para avançar para o ataque, vindos de trás.
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- Os treinadores pelos quais passei sempre pediram para eu entrar mais na área. O diferencial é que a bola está sobrando, estou me posicionando bem. É minha característica. O Adilson (Batista), assim como o Mano (Menezes), pede isso, já que, sem o Ronaldo ficamos sem atacante de referência na área. Já tive oportunidade de jogar com o Elias nas categorias de base do Bahia. Ele tem característica parecida com a minha, de estar sempre chegando mais para o ataque – explicou Bruno César.
A tática tem funcionado. Em um time que o principal centroavante ficou fora a maior parte do campeonato e em que os outros atacantes não parecem estar de bem com as redes, as chances acabaram mesmo sobrando para o bom cobrador de falta, de 21 anos.
- A sensação é muito boa. Por eu ser um meia e ser artilheiro, junto com o Elias, que também é um meia, é algo diferente. Afinal, não estão sendo só os atacantes a marcar, estamos aproveitando as chances - afirmou o camisa 10 alvinegro.
- Fico feliz, muito alegre de viver essa boa fase, de ser artilheiro. Tenho objetivos na minha vida e esse é um. Para ser artilheiro, tenho que fazer gols e com isso vou ajudar o Atlético – comemorou Elias.
ANO |
JOGADOR (CLUBE) |
NÚMERO DE GOLS |
NÚMERO DE RODADAS |
2003 | Dimba (Goiás) | 17 | 23 |
2004 | Alex Dias (Goiás) | 15 | 23 |
2005 | Fred (Cruzeiro) e Marcinho (São Caetano) | 13 | 21 |
2006 | Dodô (Botafogo) | 9 | 19 |
2007 | Josiel (Paraná) | 12 | 19 |
2008 | Alex Mineiro (Palmeiras) e Kléber Pereira (Santos) | 11 | 19 |
2009 | Adriano (Flamengo) | 10 | 19 |
2010 | Bruno César (Corinthians) e Elias (Atlético-GO) | 9 | 19 |
A marca dos dois meias não serve de tanto orgulho assim, se comparada com as outras edições do Nacional: se iguala à pior de todas, de Dodô, em 2006, pelo Botafogo. Em 2010, atrás de Bruno César e Elias, aparece Jonas, do Grêmio, com oito, seguido por Emerson, do Fluminense, com sete.
perdido (Foto: Ag. Estado)
Lesões, suspensões, azar, má fase...
O começo de campeonato não foi positivo para os matadores nacionais. Artilheiros de 2009, Adriano deixou o Flamengo para o Roma (ITA), enquanto Diego Tardelli, além de ter sofrido com lesão, não tem tido boa sorte para por a bola nas redes. Marcou apenas seis gols até agora.
Ronaldo? Fred? Lesões de longa recuperação afastaram os centroavantes dos gramados por muito tempo, tirando as esperanças de corintianos e tricolores em seus ídolos. Neymar, apesar de seguir se destacando no Santos, não atropelou os adversários com goleadas como durante a Copa do Brasil, e segue com discretos seis gols; mesma situação de Kleber, do Palmeiras, que admite não ver a artilharia como meta.
- Acho que estou na briga, e o que facilita eu estar nessa condição é a qualidade do time do Palmeiras e o fato de eu estar jogando mais enfiado na área, bem próximo do gol. As chances têm aparecido e eu estou tentando aproveitar. Não vejo a artilharia como um objetivo, mas é claro que é sempre bom fazer gols e principalmente ajudar o time a vencer - destacou o jpgador alviverde.
Um dos principais candidatos à artilharia, que teve um início de campeonato meteórico, acabou tendo o azar de sofrer uma lesão que o tirou de cena. Alecsandro, do Internacional, atuou em oito partidas, marcando seis vezes. Era o artilheiro, até sofrer uma lesão em meados de agosto, que o tirou inclusive da decisão da Libertadores.
- Este ano eu acreditava que brigaria pela artilharia, fiquei na disputa até o final ano passado. Fiquei triste com a minha saída, eu vivia um momento muito bom, era o artilheiro do Brasileiro, ia jogar uma final de Libertadores. Mas, temos sempre que pensar na frente. Os médicos calculam a minha volta para o dia 22 (de setembro), mas estou treinando dois turnos e acho que com meu esforço vou acabar voltando antes. Afinal, o pessoal já está se distanciando (risos) – afirmou o atacante colorado.
‘Não tem como desaprender a fazer gols’. Será?
Apesar do esforço, não adianta: as bolas não entram. Enquanto o vice-líder Corinthians tem o melhor ataque (34 gols) com um jogo a menos, o seu algoz da Libertadores, o Flamengo (14º colocado, 22 pontos), tem o pior, disparado: apenas 14. Para deixar a situação do Rubro-Negro ainda pior, seus atacantes não marcam há nove jogos, desde o dia 21 de julho. A esperança cai sobre os recém-chegados Diogo e Deivid, já que Val Baiano, Cristian Borja, Leandro Amaral e Diego Maurício não deram conta e foram para a reserva.
- Alguns atacantes estão com falta de sorte, o time não vem em fase boa. Não tem como desaprender a fazer gols. Acredito que o artilheiro vá ser um atacante, e não um meia. Os meias fazem gols, lógico, mas é diferente dos homens de frente são diferentes. Tem uma hora que os meias param (de marcar), que não é a função deles. Tardelli, Fred, Ewethon, Dagoberto, são todos jogadores que podem se recuperar. Ainda acredito nos nossos atacantes – completou Alecsandro, do Inter.
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